Em suas trajetórias artísticas, os fotógrafos Jairo Goldflus e João Caldas têm prestado contribuições decisivas à cena teatral paulistana. A produção de ambos figura em inúmeros programas de peça, cartazes promocionais, publicações jornalísticas, livros e acervos culturais do país. No entanto, para além da função de divulgação e documentação, as fotografias para teatro de Jairo e João carregam traços singulares e apresentam poéticas próprias, que dialogam e se complementam.
Os retratos de Jairo, realizados quase sempre em estúdio, são marcados pelo equilíbrio, precisão e rigor formal. Já a produção fotográfica de João privilegia a cena propriamente dita, com registros que conjugam a intensidade emocional e a vivacidade das apresentações ao apurado senso de composição e domínio técnico.
Jairo costuma fotografar o elenco antes da estreia, não raro na primeira vez em que os atores e atrizes vestem seus figurinos e suas caracterizações completas (maquiagens, perucas, adereços), após semanas de ensaio. Como as imagens revelam, trata-se da ocasião em que estes seres fictícios passam a habitá-los por inteiro, antecipando o que será vivido e visto nos palcos. Ao passo que João se debruça sobre o momento em que as personagens ganham vida diante do público, ao longo da temporada das peças, produzindo imagens que enfatizam o ato performativo e dão a ver a dimensão pulsante, e por vezes vertiginosa, da cena teatral.
Apesar das acentuadas diferenças, ambos os fotógrafos lidam com o caráter transitório do teatro, fixando instantes únicos em suas imagens e eternizando, deste modo, uma linguagem em tudo fugaz, fadada ao desvanecimento. Em outras palavras, Jairo e João desafiam o tempo e ousam capturar uma arte que só existe de fato enquanto acontece.
******************
No salão principal, apresentamos uma visão panorâmica das fotos de Jairo e João sobre diferentes espetáculos realizados a partir de 2004. A sensação de panorama, neste caso, é literal: parado em um extremo do salão, o visitante terá diante de si uma paisagem povoada pela obra de um dos fotógrafos; parado no extremo oposto, a paisagem estará repleta da obra de outro. Passeando entre as ampliações, o espectador é convidado a compor sua própria narrativa entre as imagens.
A segunda sala é composta por duas mesas que evocam a materialidade do trabalho do fotógrafo, colocando diversas ampliações sobre uma mesma superfície para compreendê-las em conjunto. Em uma das mesas, fotos de Jairo e João para os mesmos espetáculos podem ser vistas lado a lado. Essa contraposição denota não somente o caminho de cada uma das produções e de seus intérpretes, mas também reafirma as escolhas estéticas, o estilo e as abordagens próprias de cada fotógrafo sobre o mesmo objeto de interesse.
A outra mesa apresenta uma breve amostra da extensa trajetória de João Caldas como fotógrafo de cena, expondo imagens realizadas por ele a partir de 12 espetáculos teatrais – sempre com mais de um registro de cada uma das peças. Assim, articula-se uma interlocução entre as fotos de uma mesma produção, ao mesmo tempo que se forma um mosaico do complexo e diverso universo teatral da cidade de São Paulo.
Ainda nesta sala, uma videoinstalação contempla exclusivamente espetáculos musicais, buscando explorar as possibilidades narrativas e rítmicas das fotografias de cena de João em fricções pontuais com as fotos de estúdio de Jairo. Através da montagem dinâmica e sincopada, é proposta uma outra maneira de fruir as imagens dos fotógrafos, evocando o movimento e a musicalidade presentes nos registros de gestos congelados, suntuosos conjuntos e elaboradas encenações.
Por fim, o espaço expositivo externo dialoga com a ideia de um ‘jardim de esculturas’, em um jogo com a secular arquitetura do Instituto Artium. Nele, 10 imagens de sólidas estátuas humanas tornam-se monumentos à transitoriedade da arte teatral e à plenitude de vida que dela irrompe.
RAFAEL GOMES
A partir de 01 de junho
Quarta a sexta das 12h às 18h
Sábados e domingos das 10h às 18h
Rua Piauí, 874 - Higienópolis - São Paulo.
Os ingressos devem ser reservados no link disponível no topo desta página. O tempo de visitação é de até uma hora e é necessária a apresentação do ingresso (digital ou impresso) na entrada do evento.
Obras híbridas que misturam cenografia, pintura e fotografia abrem inúmeras possibilidades para o público observar uma cidade, um bairro, um edifício ou um espaço cultural de outras formas. Esse é o mote do trabalho de Felice Varini, artista suíço radicado em Paris, que expõe sua primeira individual no Brasil ocupando os espaços do Instituto Artium, com curadoria do francês Franck Marlot.